domingo, 11 de abril de 2010

Toni...

Incrível como Toni gosta do silêncio e da solidão. Não importa onde nem com quem estivesse: em algum momento, ele se retira e fica só, entregue em seus pensamentos, com o olhar longe, mirando algo no nada.

Adotara esse costume já havia alguns anos, mas nunca comentara com ninguém, já que o melhor jeito de se resolver as coisas é compartilhar com os demais. Mas como poderia compartilhar tais pensamentos se todos pensam diferente? Se todos lhe dirão que isso é errado, que deve fazer dessa maneira ou de outra?

Um banco mais isolado no parque da cidade, uma campina onde sempre vê o sol morrer, o gramado de sua casa, entre as árvores, no fim da noite, estando o céu estrelado ou não. Até prefere que esteja estrelado, com a lua por testemunha de seus devaneios e sonhos, dúvidas e lembranças. Afinal, ele via sua imagem refletida na face lunar e a imagem o reconfortava, mesmo sendo algo tão distante...

Em suas viagens e andanças, procurava o ponto mais alto, próximo a natureza ou das nuvens. Algum prédio velho, o alto de uma torre de comunicação, o pico mais isolado de um emaranhado de pedras, um pequeno trecho de areia ou a pedra mais alta de uma encosta do mar. E ali fica, dez, quinze, quarenta minutos sozinhos, pensando em nada, pensando em tudo...

Da última vez, vi sua boca murmurando algo: não sei se uma frase, uma promessa ou apenas simples palavras. Toni fizera isso de cabeça baixa, cabelos contra o vento, permitindo que essas palavras voassem junto com o vento, para não sei onde.

Interpelei ele e ele me disse, com um sorriso no rosto:

- Fiz isso porque acredito nas minhas palavras. Mas elas presas dentro de mim, não valem nada. Joguei-as ao vento não para esquecer, mas para que quando eu mais necessitar, eu possa escutar elas novamente e tenha coragem de fazer aquilo que falei. Por mais que as palavras voam e se percam, elas nos deixam marcas que nem o tempo muito menos o esquecimento nos fará esquecer!

segunda-feira, 5 de abril de 2010

O jovem

Ele estava cansado daquilo tudo!

Suas dúvidas e indecisões o corroíam dia após dia, num ritmo lento e doloroso. Lento como o próprio passar do tempo, o ser que controla a todos com a sua contagem em segundos e minutos; horas, dias e meses que começam e terminam num ciclo infinito, contínuo. Doloroso como uma ferida profunda, que demorará para se curar e, após todo o processo, ainda irá existir, pois a cicatriz ali deixada rememora como a mesma fora adquirida, seja por um acidente, um ato de altruísmo ou um momento de tolice.

Achara que já tivesse tomado a decisão correta, mas sua decisão era como as ondas do mar, que vão-e-vem, de forma natural, cíclica, algo tão belo mas também tão misterioso.

Ele pensa agora... Tenta pensar... Se põe a pensar... E o que vem em sua mente são mais indecisões...

O que resta fazer, agora, é ir ao bar e pedir uma cerveja. Sua decisão não será revelada pela espuma, mas, momentaneamente esquecida, até o seu próximo momento de indecisão, dúvidas e dor...


Ou, quando ele decidir se livrar delas...