segunda-feira, 22 de junho de 2009

O Circo


Trem em movimento, silêncio quebrado pelo atrito das rodas contra os trilhos, vento entrando pelas janelas abertas... Palavras e pensamentos martelando minha cabeça.

Ontem, após (mais) uma conversa noturna com a Maquinista, fiquei a pensar: a vida é um grande circo. Identificamos-nos com as personagens desse mundo colorido, onde a alegria esta sempre presente... Mas não é só a alegria que se vive o circo.. E não somos apenas um personagem, mas sim muitos deles...

Vejamos: qual a imagem de que nos passa um domador de feras? Um homem destemido, corajoso, que lida com as feras mais mortais da terra. Hum, bela imagem... Mas o porquê do chicote?? Se é tão corajoso, por que não amansa a fera com os seus punhos?? Ou melhor, por que ataca com brados, com a aspereza do chicote, feito de couro cru e rijo, ao invés de uma voz suavizada, de um afago com suas mãos macias? E o mágico, que guarda os mistérios da ilusão: “Uau, como ele fez aquilo”, ou “Nossa, isso foi fantástico”. Mas penso o seguinte: se ele não tivesse esses mistérios que tanto nos fascina, seria ele apenas mais um espectador desse mundo.

Mas agora chego onde queria chegar: a tríade da “Commedia Dell’Arte”. Pierrot, Colombina e Arlequim, este triângulo que foi o assunto da conversa de madrugada.

“Pierrot é apaixonado pela Colombina que, por sua vez, ama Arlequim, e este, não ama ninguém, se não a vida. Além de aprontar das suas, Arlequim rouba beijos (e suspiros) de Colombina, que segue apaixonada por este amor impossível, que tantas vezes já a fez sofrer... E o Pierrot, pobre Pierrot, sofre em silêncio tanto pela dor de sua amada, quanto pela sua própria dor, por não conseguir revelar esse amor... E por isso, uma lágrima escapa-lhe dos olhos e desce sua face...”.

Identificamos-nos com um desses personagens (cada um, com seu ponto-de-vista), mas agora pensando (já no circular Unisinos): será que não somos um pouco de cada um desses personagens, e não um só?? Será que, aos nos vermos como Arlequins, esquecemos que somos Pierrots, escondendo nossos sentimentos, e Colombinas, fruto de desejo para um e apenas mais uma peça para o outro??

Acho que, além desses três, temos dentro de nós a infinidade de seres que habitam um circo: o misterioso mágico, o “destemido” (sabe-se que não) domador, o alegre (mesmo?) palhaço, e até os excêntricos freaks, cada um com suas particularidades e defeitos, mas assim mesmo, admirado por muitos... Pois o circo é isso, um pouco de tudo... como a nossa vida.

Um comentário:

MARIA, L.P. disse...

"Palhaço é um homem todo pintado de piada..."